Sunday, October 01, 2006

Um Novo Jardim - Guilherme Conde/Pedro Marcos Lima

Dá licença não vão me levar a mal
Fiquem calmos
Nas cenas que eu passo a narrar
Nestes salmos

As cenas que nos relegam
Nos chegam das imagens da tv
E nos chocam e nos cegam
Porque os olhos não querem ver

Cenas, que roubam nossa confiança,
Mas nós sabemos
E cremos
Que somente no Pai temos esperança

É irmãos, prestem atenção nesta parábola
A palavra não é um palavrão
Mas também não é uma fábula
É só uma maneira de dizer a situação

Sobre um jardim de pedras
Voam pássaros de asas quebradas
Passa carros a toda velocidade
No banco passageiro,
Pessoas desesperadas

Rosas rotas rasgadas
Pelos espinhos dessas redes
Caminham palavras duras
Folhas tortas pelas ruas
Sem nenhum tema
Pra viver, procurando algum sistema.

Aqui um escrito jardim
De palavras troncos cortados
Desviando a atenção de discípulos trabalhados
Sobre os ombros da grama
Descobrindo alguma coisa que se ama
Em fios de raízes pontas de pavios
Bandidos distribuindo migalhas de pólvora em navios
Os pavios que estavam prestes a explodir
Nas faixas de pedestres
Sem ter para onde ir
As sub-espécies terrestres

Palavras galhos secos
Jogadas ao vento
As mesmas palavras-ecos
Andando acompanhando o movimento
Dormindo-sonhando
Ao relento

Nuvens sobrevoando o cimento
Imaginando
Um novo acontecimento

Nas cercas caídas do jardim
Devastadas rimas

Pixações nas folhagens
Mal conseguimos ler
Suas mensagens

É irmãos, virando as páginas
Da cidade
Na correnteza das avenidas
Cartazes chamados em outra língua
De outdoors
Com fotos inconciliáveis
Com a nossa vida e a nossa fome
Flores plásticas
De girassóis
Falsos sóis

Juntos na mesma esquina
Apagadas flores murchas nos faróis
Sementes nascidas
Do concreto
A soletrarem
Um alfabeto
De ervas daninhas

E folhas e mais folhas
Impressas
Da vida bela
De condomínios
Para cobrir nosso frio
O mal fornece-nos assassínios
Mas nós sabemos
Com o Senhor estamos juntos
A atravessar qualquer rio

É irmãos, o que podemos
Ver de verdade
No muito a ver
E pouco verde
O jardim da CIDADE
É um poema de plantas
Muitas plantas de edifícios

Propagandas priorizam a síntese
Na poluição comercial
Desprezando a fotossíntese original

Plantas muitas plantas
Nas mãos do ceifeiro.

1 comment:

Anonymous said...

legal.......